Projeto desenvolvido pelo grupo Buraco d`Oráculo nas Cohab`s da Zola Leste de São Paulo. Consiste na criação de um circuito de teatro de rua e a criação de três núcleos de teatro de rua que integrará o circuito. Haverá ainda encontros bimestrais com fazedores e pensadores do teatro, denominados Café Teatral e uma publicação intitulada A Gargalhada. Este projeto tem o patrocínio da Lei 13.279/02 - Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Thursday, March 12, 2009

Novo site do Buraco d`Oráculo

Atenção!

Visitem o nosso novo site:
www.buracodoraculo.com.br

Lá você encontrará informações sobre nossos trabalhos, nossos projetos e nossas pesquisas.

Tuesday, July 01, 2008

Novo Projeto "Re-Praça"

ComiCidade - Novo espetáculo do Buraco d`Oráculo que será apresentado no Re-Praça

O Buraco d`Oráculo vem atuando na região de São Miguel desde 2002, entre os projetos realizados o que mais ganhou destaque foi o "Circular Cohab´s", realizado entre junho de 2005 e setembro de 2007, em que foram feitas mais de 100 apresentações para um público estimado em mais de 30.000 pessoas.


Agora o Buraco d`Oráculo volta a circular na região com o circuito denominado "Re-praça", passando por seis praças. Outra atividade que o grupo retoma é o "Café Teatral", encontro esse que, desta vez, tem a finalidade de dialogar com os moradores da região e servirá de material de pesquisa para a construção de um novo espetáculo.

O ano de 2008 marca os 10 anos de história do grupo. Venha participar dessa história acompanhando a programação e participando de nossas atividades.


SERVIÇO:
O QUE: RE-PRAÇA (Circuito de Teatro de Rua)
ONDE: Pça. Do Casarão – Vila Mara (Ao lado da estação Jd. Helena CPTM)
QUANDO: Dia 06 às 15:00 h – Espetáculo: “ComiCidade” com Buraco d`Oráculo
Dia 13 às 15:00 h – Espetáculo: “ComiCidade” com Buraco d`Oráculo
Dia 20 às 15:00 h – Espetáculo: “A Farsa do Bom Enganador” com Buraco d`Oráculo
Dia 27 às 15:00 h – Espetáculo: “Pinta de Palhaço” com o Núcleo Pavanelli
QUANTO: Toda a programação é gratuita!
CONTATO: (11) 8188-3670/ 8152-4483
buracodoraculo@yahoo.com.br
http://www.buracodoraculo.blogspot.com/

REALIZAÇÃO: Buraco d`Oráculo
PATROCÍNIO: DEC-FOMENTO – Secretaria Municipal de Cultura

Friday, July 13, 2007


Programação Maio e Junho

JUNHO
Conjunto Vila Mara - Pça. do Casarão - Vila Mara

03/06/07 às 16:00 h
A Farsa do Bom Enganador - Buraco d`Oráculo

10/06/07 às 16:00 h
Show de Variedades Palhacísticas - Teatro de Rocokóz

17/06/07 às 16:00 h
Gozolândia: uma farsa democrática - IVO 60

24/06/07 às 16:00 h
O Cuscuz Fedegoso - Buraco d`Oráculo


MAIO
Rua Barão de Alagoas, 340 - Itaim Paulista

06/05/07 às 16:00 h
O Cuscuz Fedegoso - Buraco d`Oráculo

13/05/07 às 16:00 h
O Básico do Circo - Núcleo Pavanelli de Teatro e Circo

20/05/07 às 16:00 h
A Princesa Africana e a Cobra Leão - Grupo Mão na Luva

27/05/07 às 16:00 h
A Farsa do Bom Enganador - Buraco d`Oráculo


CAFÉ TEATRAL
"A rua na trajetória do IVO 60" com o grupo IVO 60
Local: Casa de Cultura do Itaim Paulista - R. Barão de Alagoas, 340
Quando: dia 15/06/07 às 17:00 h

TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA!

Friday, March 02, 2007

OFICINA DE TEATRO DE RUA - GRATUITA

Aulas de circo, percussão, interpreção, corpo, figurinos e adereços.
Inscrições até 30 de março de 2007
Duração: de abril a agosto de 2007
Aulas de terças e sextas das 15:00 às 18:00h
Local: Casa de Cultura do Itaim Paulista
Rua Barão de Alagoas, 340
Informações: 6963-2742 / 8152-4483 / 8188-3670
Objetivo: Formação de um novo núcleo de teatro de rua
Coordenação: Buraco d`Oráculo

Programação Março Abril


Monday, January 08, 2007

Programação de 2007


Ano novo, força total.
Acompanhe a nossa progração!

Wednesday, December 06, 2006

Programação de Novembro e Dezembro



CIRCUITO - ESPETÁCULOS - NOVEMBRO E DEZEMBRO
Novembro
Cohab Juscelino Kubitschek
Av. José Higino Neves C/ Rua Utuari Kanai
Dia 05 às 11:00 – A Farsa do Bom Enganador – Buraco d`Oráculo
Dia 12 às 11:00 – Falidos – Nascidos do Buraco
Dia 19 às 11:00 – Perfeição-quando a tempestade nasce das luzes – Cia Teatral ManiCômicos
Dia 26 às 11:00 – O Cuscuz Fedegoso – Buraco d`Oráculo
Dezembro
Conjunto Palanque - Av. Ponte da Amizade (Alt. 7200 da Av Ragueb Choffi)
Dia 03 às 16:00 - A Bela Adormecida - Buraco d`Oráculo
Dia 10 às 16:00 - A Farsa do Bom Enganador - Buraco d`Oráculo
Dia 17 às 16:00 - O Cuscuz Fedegoso - Buraco d`Oráculo

Café Teatral
Dia 15 de dezembro às 17:00h
Tema: Formação de Atores - Antônio Rogério Toscano (Coordenador da Escola Livre de Teatro)
CENTRO CULTURAL ARTE EM CONSTRUÇÃO
Av dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes

TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA!
MAIORES INFORMAÇÔES:
(11) 9541-3588 / 8188-3670

O Teatro de Rua faz sua excursão no Projeto Circular Cohab`s

Durante seis meses, nove grupos de teatro de rua se apresentaramna zona leste da capital paulistana, com uma diversidade de linguagens que vai do teatro de mamulengo à commedia dell´arte." Ô raio o sol Suspende a lua Olha o Teatro no meio da Rua Uma roda aqui Uma risada lá Se liga minha gente É o teatro popular"Esta chula (cantiga popular de pergunta e resposta), foi entoada por seis Cohab´s da Zona Leste que fizeram parte do "Projeto Circular Cohab´s"do Buraco d´Oráculo no período de março a agosto de 2006.
O circuito de Teatro de Rua percorreu a região de Itaquera, Arthur Alvim e São Mateus, tendo apresentações todos os fins de semana, apresentando-se nos mais diversos lugares para um público bem variado.
Os lugares foram desde o parque Raul Seixas, local que recebe freqüentemente uma programação teatral, à Fazenda da Juta na região da divisa de São Matheus com Santo André, um local que não está em nenhum roteiro cultural da cidade. Neste conjunto habitacional apresentamos numa feira livre no horário da "xepa", passando a feira de domingo também a fazer parte da programação cultural dos habitantes da Fazenda da Juta no mês de junho.
Durante o circuito podemos confirmar o quanto foi importante a promoção de atividades artístico- culturais nas regiões escolhidas para compor o projeto. Estas regiões, distantes dos grandes centros culturais, provavelmente nunca farão parte de um calendário cultural da cidade, visto suas precariedades, o seu difícil acesso, locais que somente o Teatro de Rua, livre de grandes aparatos técnicos pode alcançar, apresentado-se para um público que não costuma freqüentar as salas de espetáculos ou , na maioria dos casos, nunca assistiu a um espetáculo teatral. Foi na busca dessa platéia que o circuito foi criado.
E para que houvesse uma variação das formas de expressões e linguagens utilizadas para o teatro de rua, não se prendendo somente a encontrada pelo Buraco d´Oráculo, convidamos grupos com os quais temos afinidades artísticas e que possuem trabalhos capazes de somar ao projeto. Tivemos então apresentações das mais diversas linguagens, passando pelo circo, teatro de mamulengo, palhaços e commedia dell`arte. Todas representações do teatro popular capazes de promover momentos de afetividade por meio de um diálogo direto e eficaz.
A aceitação do público aconteceu de forma surpreendente, em que as pessoas passaram a colocar o circuito de apresentações em sua programação de fim de semana, podendo observar o aumento gradual do público em relação a primeira e última apresentação de cada mês. Como aconteceu na Praça Dilva Gomes na COHAB I, que na ultima apresentação do nosso espetáculo "O Cuscuz Fedegoso" as pessoas desciam de seus apartamentos como se aprontassem para ver o acontecimento do dia, ou assistiam de suas janelas toda uma movimentação no centro da praça.
Nesses seis meses de projeto realizado concluímos também o I Núcleo de Teatro de Rua, em que buscamos compartilhar nossas referências com os alunos. Compartilhamos nosso aprendizado, técnicas e nossos anseios no fazer Teatro de Rua conduzindo-os por meio das cinco oficinas (Interpretação, consciência corporal, circo, percussão e confecção de figurinos e adereços) a formação de um grupo de teatro na região. O resultado foi além de nossas expectativas, o surgimento do Grupo Nascidos do Buraco com o espetáculo Falidos.
Como forma de auxiliar o projeto, lançamos este jornal (A Gargalhada) que chega agora a sua quarta edição, e buscou trazer material que fosse de importância a discussão pra o teatro. O jornal, juntamente com o ciclo de debates intitulado “Café Teatral" serviram também de ferramenta para o Núcleo de Teatro de Rua, que por meio de seus convidados despertou o interesse dos participantes em descobrir como se dá o Teatro de Rua em sua região ou o quanto pode ser um fato político fazer Teatro na periferia.
Agora o projeto aporta na Cohab Cidade Tiradentes, maior conjunto Habitacional da América Latina com aproximadamente 320 mil habitantes, e conta com uma parceria fundamental do Instituto Pombas Urbanas para a sua realização nos próximos seis meses. Parceria esta muito significativa, pois o Pombas Urbanas já se encontra fazendo atividades na região desde 2003, e este projeto vem somar a realização já feita na região, sem deixar de desbravar novos caminhos e novos interlocutores.
"Ô raio o sol suspende a lua...olha o palhaço, o mamulengo, o circo, a commedia dell´arte, o fantoche, o teatro popular. Todos no centro das Cohab`s."

Edson Paulo – Ator do Buraco d´Oráculo.

Pra não falar em culpa

Não estou aqui para falar em culpa,
mas fica assim:
a culpa é sua.
Sei que é doloroso esse tipo de afirmação, mas, que fazer? se a culpa é sua.
Mudemos o termo,
talvez para seus delicados soe cristal a responsabilidade.
Rude! podes gritar,
mas a responsa é sua.
Aí você diz: nunca vi aquela criança.
E aqueles adiante?
E daí?
São seus.
Loucura, nunca os vi.
Seus herdeiros, nossos filhos.
Percebo quão Piegas esse papo de vinde a mim as criancinhas,
de irmão o próximo e blá, blá, blá.
mas não é que esse povo tem razão
e por favor sem confundir-me com mais um cristão.
Também não menciono revolução.
Aponto aqui questões que lhe pertencem, coisas tuas, intransferíveis.
Aquela chacina noite dessas na favela
sou capaz de afirmar: tens parcela.
Lunático!Gritarás.
E o verbo injusto desta praga secretada
em casebres deslizados, em chuviscos sobre a terra
Alma, lama, lodo o retrato de uma era
Na falência da esperança
No assento a ignorância , no conformismo, na fuga de tudo o que não veja seu,
Pois o abismo de um ego é a vala deste tempo;
Cego;
Continente duns tantos teus;
Já vi que és um simples comum que deseja ganhar a vida sozinho e ajudar sua família e construir a casa e ter um carro e conforto e um plano de saúde e muros altos e grades com pontas e cão feroz e passeio no shopping e balada na noite e cerca repulsora elétrica e filme oco entretenimento e pipoca e farra na praia e câmeras de vídeo na calçada e vidros fechados pra evitar assalto no centro e boa roupa e tenho uma raiva de você.
Vou enfiar agora o dedo na garganta e vomitar em você!
AAAAHHHHHH!!!!!! Asco!
Lhe desejo todo o mal comum.
Quero pra ti um seqüestro relâmpago,
só pra você o escarro do mendigo,
o pixo no teu muro e assalto a mão armada.,
seu filho cheira cocaetercola,
e desprezo dos que pedem esmola,
pra ti poluição, corrupção, inanição do pensamento,
tropeço no entulho o piso no excremento,
consumo tresloucado jorrando imensa diarréia
e corpo sarado disfarçando explosão da artéria.


Luciano Carvalho.Membro do coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes da zona leste de São Paulo

A Construção do Comportamento Social

Com os fatos ocorridos na 2ª semana de maio, torna-se nítido a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade. Eles antecipam as pessoas em suas decisões e inferem na rotina de todos.

Entretanto, o que é de maior relevância nesse contexto é a conduta acrítica dos indivíduos diante das informações que circulam e das que são adquiridas. Elas chegam e são tomadas como verdadeiras, sem antes passar por uma análise prévia.

Quando se diz em análise de notícia, deve-se tomar como objeto as palavras.

Durante esses dias de tensão, foram utilizados termos inapropriados para classificar os atos das facções criminosas. Esses termos, evidentemente preocupam, porque estão associados a outra situação presenciada pelo mundo. Tem-se como exemplo: atos terroristas; guerra civil; guerra entre policiais e o crime organizado; e tantas outras.

Diante de toda essa situação, é importante tomar (ou criar/construir) a consciência do poder da palavra.

Cada palavra tem seu valor e a aceitação desse valor foge do controle dos indivíduos.

Esse assunto já foi tratado em um trabalho póstumo de um lingüista suíço, Ferdinand Saussure (pai da lingüística moderna). Na sua obra “Curso de lingüística geral”, ele trata das unidades que estruturam a língua: o signo. O signo compõem a palavra e estrutura a língua em todos os seus níveis ( de acordo com o outro lingüista, Chomsky).

O signo é composto pela junção de um significado (o conceito do que se quer categorizar) a um significante (pode ser entendido como um som virtual e ideal).

Entre esses dois componentes, o que mais interessa para a presente discussão é o “significado” que sedimenta-se em sociedade, coletivamente. Em seu trabalho, temos a defesa da idéia de que a língua (e conseqüentemente os signos que o compõem) é uma “instituição supra-individual.”

Resumindo e em outras palavras, os termos que utilizamos para descrever, relatar, afirmar e questionar algo, carregam um significado instituído socialmente, somado ao que se quer transmitir. Exemplificando, não se diz ‘atentados terroristas de uma facção criminosa ‘X’”, por simples capricho. Há atrás ou subentende-se da frase, a intenção de retomar a idéia de um atentado terrorista. E o significado social que temos do termo “atentado terrorista,” remete ao episódio do 11 de setembro; todos as outras notícias sobre homens bombas; destruição de um país...

Em suma, vem à tona situações de desordem e impossibilidade de repressão. Instaura-se aí, a verdadeira desordem quando é veiculado a população esses termos. Com as mesmas intenções.

Pronto, temos agora uma população que compartilha desses mesmos significados, que trazem sensações negativas. Tudo isso pela incorporação de um significado, que não pertence a realidade do Brasil.
Na sociedade mundial, o significado do termo terrorismo amplia-se para questões mais complexas. Questões que envolvem conflitos entre valores e disputa econômica; questões de assincronia entre duas partes de um globo (Oriente/Ocidente).

Todos esses aspectos foram reduzidos a um acontecimento que não significa tanto para todos as categorias e grupos sociais deste país.

Porém, mesmo não significando muito os meios de comunicação tratam o ocorrido com seu significado ampliado. E as pessoas não inutilizam o significado ampliado – podemos chamar de “valor heteronômico” – porque dependem dos meios, por serem estes a fonte de informação. E assim, como já mencionado, chega para todos a informação com esses “valores heteronômico.”

A verdade é que a geração brasileira atual, nunca vivenciou uma guerra civil, e por isso não pode categorizar um evento como tal. As informações atuais que chegam ao Brasil, sobre guerra e terrorismo, provém das experiências e vivências de outros países e eles não compatibilizam com o nível do Brasil (país emergente ou subdesenvolvido).

A resposta imediato da população deve-se também a uma característica do organismo sofisticado do ser humano, que diante de diferentes espécies de estímulos apresenta respostas compatíveis, como no caos, defesa. Isso não é tudo.

A culpa está também nas notícias ignoradas de situação similares, que ocorreram rotineiramente.

Todos os dias há a rebelião de diferentes presídios em diferentes pontos do Brasil e nem por isso a mídia veicula essas informações ao povo. Ela usa desses mecanismos rotineiros, como mecanismos de desvio da atenção para questões realmente importantes.

É assim também com a copa!

Um período de abstração das questões sociais mais importantes.

Assim segue-se a construção do comportamento social, através da tela, jornal, internet. Uma construção através de “valores heteronômicos.”
Thomas Miranda – Aluno do I Núcleo de Teatro de Rua

Uma Introdução a Estética do Grotesco



Desde sua formação o Buraco d`Oráculo trabalha com um gênero específico: a farsa. Não foi uma escolha consciente, pensada. Os espetáculos nos arrastou para esse gênero teatral, que tem uma estrutura simples e absurda. Na farsa ocorre um desmascaramento constante e o corpo assume uma importância fundamental. No nosso caso, um corpo disforme e estranho. Juntamente com a farsa uma estética veio a reboque: o grotesco. O corpo grotesco está presente em todos os nossos espetáculos.
O termo grotesco vem de gruta (em italiano grota), por causa das descobertas, no século XV, de uns ornamentos ‘esquisitos’ retirados de escavações em frente ao Coliseu. O termo sofreu variações ao longo dos tempos. Inicialmente era apenas um substantivo, adjetivou-se e chegou a categoria estética. Esteticamente o grotesco sempre existiu e sempre esteve presente nas manifestações artística desde a Antiguidade, antes mesmo da invenção do termo.

Victor Hugo foi quem elevou o grotesco a categoria estética, ao defender, no prefácio de Cromwell, a mistura do sublime com o grotesco. Mas o que vem a ser uma categoria estética? Segundo Muniz Sodré, “a categoria responde tanto pela produção e estrutura da obra quanto pela ambiência afetiva do espectador, na qual se desenvolve o gosto, na acepção da faculdade de julgar ou apreciar objetos, aparências e comportamentos.” (2002, p.34) Para tanto, necessita de uma organização dos elementos na criação do artista.” (idem, p. 32)
O grotesco opera por rebaixamento, “suscitando (...) riso, horror, espanto, repulsa” (2002, p. 17) e está presente no teatro, na literatura, nas artes plásticas etc. No dizer de Sodré, “o grotesco é o belo de cabeça para baixo.” (p. 28)
Ainda segundo este autor, uma categoria estética tem três planos – criação, componentes e efeitos de gosto – e quatro elementos: equilíbrio de forças, reação afetiva (do espectador perante a obra), valor estético (julgamento) e trânsito estético (“o grotesco pode acontecer numa pintura, num romance, num filme, na vida real e assim por diante.”) (p. 35)
Mikhail Bakhtin afirma que para entender o grotesco é necessário um mergulho na cultura popular, que para ele é pouco estudado. Estudando a cultura popular medieval e renascentista, ele denominou essa estética de realismo grotesco, que tem sua expressão máxima no carnaval, que seria “a segunda vida do povo, baseada no princípio do riso. É a sua vida festiva. (1987, p.7) Essa segunda vida se construiria como “paródia da vida ordinária.” (p. 10) O riso carnavalesco é um patrimônio popular, universal e ambivalente.
“O traço marcante do realismo grotesco é o rebaixamento” (p. 17), ou seja, faz descer a terra tudo que é elevado. O riso grotesco, segundo Bakhtin, nos libertaria das “idéias dominantes. Ao penetrar nesse mundo sentimos uma alegria espacial e ‘licenciosa’ do pensamento e da imaginação.” (p. 43)
O grotesco está associado “a escatologia, a teratologia, aos excessos corporais, às atitudes ridículas e (...) a toda manifestação da paródia em que se produza uma tensão risível, por efeito de um rebaixamento de valores.” (SODRÉ, 2002, p. 62) O fenômeno grotesco manifesta-se, ainda segundo Sodré, representado ou atuado. Sendo que o representado pode está no suporte escrito (literatura, imprensa) e imagístico (pintura, fotografia, cinema televisão etc.). No atuado o fenômeno pode ser espontâneo (“incidentes da vida cotidiana”), encenado (teatro) e carnavalesco (associado às festas e aos espetáculos circenses).
Atuado ou representado o grotesco assume “modalidades expressivas”: escatológico, teratológico, chocante (misto das anteriores, visa apenas chocar) e crítico. Este último propicia um desmascaramento das convenções, rebaixando pelo riso os cânones e o “poder absoluto.” A crítica é lúcida, cruel e risível.
É justamente o grotesco crítico que o Buraco d`Oráculo tem trabalhado em seus espetáculos, rebaixando e desmascarando alguns tipos sociais, fazendo com que o espectador desvende através dessa operação outros valores e encontre, no dizer de Bakhtin, o “seu corpo social.”

Adailton Alves – ator do Buraco d`Oráculo

Bibliografia
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad.: Yara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC, 1987.

SODRÉ, Muniz; PAIVA, Raquel. O Império do Grotesco. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

Falidos faz crítica e satiriza os programas de TV

O grupo "Nascidos do Buraco" mira para a telinha e reflete os efeitos da mídia eletrônica sobre os telespectadores. Em sua nova montagem, o grupo brinca com os clichês produzidos em série pela televisão.

Vivemos hoje numa sociedade televisiva. Fazemos parte de uma geração criada pela televisão. A correria do dia-a-dia, mães sem tempo de ficar com seus filhos, a tecnologia engolindo nossas tradições culturais, o sistema educacional totalmente defasado. Enfim, muitos são os fatores que contribuem para que nossas crianças e adultos se tornem vítimas desse veículo que destrói, banaliza e manipula nosso senso crítico, a ponto de não termos mais discernimento para escolher o que é bom e o que é ruim.

Consumimos e absorvemos todo lixo produzido por esse veículo. É preciso estar alerta e não deixar que a televisão destrua nossa capacidade de questionar e escolher o que queremos ver.

É esse espírito questionador que impulsionou o grupo "Nascidos do Buraco" a criar seu espetáculo "Falidos - Uma história de seu cotidiano". Jovens que não caíram nesse jogo corrosivo da televisão e que querem fazer a diferença. O grupo monta uma peça que possibilita ao seu público a oportunidade de observar mais profundamente seu cotidiano. O grupo faz com que a platéia reflita sobre o tipo de informação que recebe e absorve dos veículos de comunicação. Essa é a proposta de "Falidos", um texto que mistura realidade e fantasia, faz uma crítica divertida e satiriza alguns programas e personagens da TV.

O espetáculo apresenta dois mundos diferentes, onde realidade e fantasia disputam seu espaço:

Um desses é o da TV. Um mundo repleto de fantasia, de meias verdades. Um ambiente sedutor e envolvente. Um mundo recheado de cor, brilho, uma alegria maquiada, com personagens cativantes e exageradamente simpáticos. A estrela desse show tem duas faces: uma delas é tenebrosa e sombria "O Senhor do mal", a outra metade desse personagem é simpático, divertido e hipnotizante "Chico Santos". Vários programas são apresentados pelo "Chico Santos", como "Fala que te arrebento", "Show da Xupa" e "Se vira Porra".

O outro mundo retrata a realidade, de como nossas vidas se modificaram à medida que a televisão toma um espaço irreversível. Nesse universo as cores não vibram, mas se derretem em tons cinzentos. Os astros dessa vez são pessoas comuns, robotizadas e hipnotizadas pela televisão, como se suas vidas tivessem sido sugadas pela TV.

A grande brincadeira dessa história está no personagem "O Senhor do Mal", que manipula todos que estão em cena e fora dela, com um objeto que simboliza toda essa catarse: O CONTROLE REMOTO. Através de um simples gesto: APERTAR O PLAY, tudo pode ir por água abaixo.

A principal mensagem da peça não é promover uma campanha para queimarmos os televisores, mas que vejamos televisão sem sermos teledependentes. E, sobretudo, cobremos qualidade. A programação piora quando o exercício da cidadania encolhe.

Mônica Martins – Atriz do Buraco D¹Oráculo

Teatro Popular União E Olho Vivo - 40 anos de Resistência

Com 40 anos de resistência, surgiu no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do largo São Francisco, o Teatro Popular União e Olho Vivo, tendo como objetivo a troca permanente de experiências culturais dedicado-se à arte popular e à produção de espetáculos para circuito de periferia, agregando inúmeros participantes originários das classes populares. Percorre, na sua longa existência de vida 3.500 espetáculos teatrais gratuitos para um publico de locais na periferia de São Paulo e em municípios próximos. Está localizado no bairro do Bom Retiro na Rua Newton Prado, 766, entre a escola de samba gaviões da fiel e o Parque do Gato.

Apresenta-se em locais como salões paróquias, quadras de escola de samba, praças e ruas, casas culturais, teatros e outros. Reconhecido nacionalmente e no exterior com participações em festivais e vários prêmios ganhos. Tem criação própria de texto e produção coletiva visando como estrutura para as montagens o folclore brasileiro como o circo, o bumba, cirandas, marujadas, folia de reis, a capoeira, literatura de cordel e o futebol. O Tuov teve participação na luta pela anistia e colaboração com entidades de Direitos Humanos, sempre visando um país melhor. Tem como seus fundadores César Vieira (Idibal Pivetta) e Neriney Moreira, ambos advogados e defensores da arte popular brasileira.

Tática Robin Hood
Para se manterem em atividade o grupo adotou o que chama de tática Robin Hood. “Como os nossos espetáculos também são bem recebidos pelo público que pode pagar, vendemos a um bom preço o espetáculo para prefeituras, secretarias de culturas e clubes, e com esse dinheiro realizamos diversos espetáculos nos bairros periféricos gratuitos. Pegamos o dinheiro de quem pode pagar para aplicar em teatro naquele que as vezes nunca viu teatro na vida”, comenta Cícero Almeida ,ator, funcionário público e estudante de direito.

O União e Olho Vivo faz suas apresentações aos finais de semanas, isso porque a maior parte do elenco desenvolve outras atividades. “Lá, temos funileiro, empregada domestica, advogados, professores, bancários e outros. Todos têm duas ou mais funções e, além disso, alguns ainda estudam. Enfim, o nosso elenco não vive de teatro. Não dá para sobreviver do trabalho do Olho Vivo, porque fazemos uma cultura que não é comercial, não é a nossa intenção. Temos uma ajuda de custo quando o espetáculo é vendido. Acredito que é uma das grandes virtudes do grupo sobreviver esses 40 anos”, afirma Almeida.

Trabalho e Criação Coletivo
O trabalho e a criação coletiva é outra das grandes virtudes do TUOV. Buscando exercitar esse trabalho coletivo, o grupo vai definindo o tema escolhido para um espetáculo, as pesquisas a serem buscadas, a dramaturgia, figurinos, musicas e cenários. Em todas as suas peças já montadas o grupo adotou a idéia central a ser narrada, num fio condutor assentado numa estrutura popular para desfiar a história:
“É nesses trabalhos coletivos que você percebe o quanto a democracia é fundamental para construção de qualquer trabalho em sociedade, também, aquela pessoa vai com a dinâmica do grupo, aprendendo a manusear coisas e funções como por exemplo: manusear um refletor, aprender a tocar percussão, criar cenários, etc”.explica Cícero.

Atualmente o grupo participa da lei do Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, com o projeto: Um Sonho de Liberdade, onde o TUOV coordena os trabalhos de desenvolvimento do grupo de teatro popular: Fonteatro Olho Vivo do Jaraguá, com alunos da escola municipal Brigadeiro Henrique Fontenelli e moradores da vizinhança do bairro do Jaraguá, atualmente com o espetáculo Barbosinha Futebó Crubi.


Os Negros Marujos de João Candido

O TUOV está a quatro anos percorrendo o Brasil com o espetáculo: João Candido do Brasil – A Revolta da Chibata, com a direção de César Vieira. O grupo já recebeu diversos prêmios com este espetáculo, entre eles, o Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos na Assembléia Legislativa de São Paulo.

Ocorrida em 1910, no Rio de Janeiro, este fato da nossa história foi uma revolta justa dos marinheiros de maioria negros, contra o uso da chibata como medida disciplinar na Marinha Brasileira.
Espetáculo realizado na praça do Patriarca – SP.
Liderada por João Candido, a revolta foi violentamente reprimida, seus participantes presos, e tudo foi feito para apagar da nossa memória a luta justa dos revoltosos.

Ao Almirante Negro e seus marujos, agora se junta os integrantes do Teatro Popular União e Olho Vivo, que apresentam a façanha de 1910, na empenhada arte popular. Brincando com a imaginação e a fantasia, que permite realçar os traços da verdade. É o que vemos neste espetáculo por meio da música, da cor, da indignação de atores populares defensores da cultura brasileira e dos direitos humanos.

Saturday, October 07, 2006

O teatro que se assiste da/na rua

A tendência de todo discurso radical é conduzir ao desastre: a dialética nos ensina a empregar vantajosamente o conflito dinâmico dos opostos. Experimentar a emoção e conservar ao mesmo tempo o senso crítico não é impossível na prática, ao contrário do que pensa Diderot. Tudo depende do quanto se está treinado para conter certos estímulos, da sabedoria na administração do emocional e do racional, de um equilíbrio capaz de se traduzir em efeito propulsor... e não estático. Em resumo, enquanto Diderot opta pela estrutura coluna-viga, que permanece ali, parada, travada, os cômicos dell’arte adotam o arco, com todos os estímulos e contra-estímulos dele derivados. Sabemos muito bem que, ao primeiro tremor de terra, a estrutura coluna-viga desaba e o arco resiste maravilhosamente.
Dario Fo. Manual mínimo do ator

É seguro que ao longo da história do ocidente - e sem contar os procedimentos religioso-ritualísticos, bastante comuns até hoje: principalmente em cortejos processionais -, a rua tem se caracterizado no lugar mais utilizado pelos artistas, e não somente por aqueles denominados artistas populares. Isto é, em princípio, o que caracterizaria o popular nessa escolha, para além do conteúdo temático de que se tratará na seqüência, seria a transformação de um simples lugar de passagem da população em um espaço de expressão e de intervenção entre dois grupos distintos de indivíduos, cujos interesses podem confluir, pelo assunto articulado à forma utilizada. O artista que escolhe a rua, refuncionaliza o lugar escolhido, criando um novo espaço, tanto para si como para os transeuntes, que param ou não para assistir ao espetáculo apresentado. Aliás, e sem entrar em questões semânticas: teatro de rua, na rua, para rua... muitos são os equívocos que cercam o conceito compreendido pelo popular e pelo teatro cujo palco encontra-se na via pública. Mesmo sem caracterizar propriamente um paradoxo, a produção teatral apresentada na rua, sobretudo por artistas populares, é aquela que menos registro tem e a que menos se conhece.

Diante desse quadro vale avisar, desde já, aos leitores que a reflexão que tento desenvolver aqui não pretende vencer ou fechar nenhuma questão sobre o conceito – posto ser quase impossível fazê-lo em espaço tão limitado –, mas, antes, trazê-lo à tona buscar aparar uma imensa gama de preconceitos e de desqualificações por que tem passado essa forma popular, e estabelecer alguns nexos mais essenciais pelos quais se possa entender, digamos, sua natureza específica.

A palavra popular, sobretudo em teatro, tem sido usada, recorrentemente nos documentos escritos dos mais antagônicos modos, compreendendo, invariavelmente: espontaneismo; falta de complexidade e de elaboração formais; reprodutivismo, fundamentado em oralidade; maniqueísmo infenso à novidade; aclimatação antropofágica e desrespeitosa a modelos consagrados etc.

Tente ser objetivo, simples, direto, aproximar-se de indivíduos de todas as idades, tocar de modo emocional, cômico, poético.... O popular, aquele que aqui se toma como referência, tem uma sofisticação que poucos conseguem ou conquistam. Altimar Pimentel, Ariano Suassuna, Carlos Alberto Soffredini, Luís Alberto de Abreu. Grande Otelo, Oscarito, Chaplin e tantos outros.
No excelente ensaio de BRECHT, e de leitura necessária: Para o senhor Puntilla e seu criado Matti. Notas sobre teatro popular,[i] o autor aponta alguns dos motivos pelos quais a cultura erudita, acobertando principalmente as questões de classe, tem destratado e ignorado as formas populares de cultura. Muitos são os eruditos, premidos pelos mais diversos interesses, ao desqualificar as manifestações populares, fazem-no defendendo e atendo-se à relativíssima (e sempre tendenciosa) ‘qualidade estética’. Ora, qualidade estética a partir de que modelos e parâmetros eles defendem? Omitindo e veiculado que interesses e pontos de vista que não dizem respeito propriamente à arte?

Muitas são as questões, mas como precisamos deixar de ser bobos, é preciso conscientizar-se de que analisar uma obra, tomando como referência outra, antagônica ou não, caracteriza-se, quase sempre, num exercício de colocação de um rótulo. Rotular é fácil, normalmente porque já vêm prontos para serem aplicados... Eles são plantados dentro de nós, para serem usados indiscriminadamente. Repetir uma classificação feita não se sabe por quem e a partir de que gama de interesses pode congelar o conhecimento do objeto, afastando-nos dele e dispensando seu conhecimento e mesmo discussão!

Essa espécie de ‘oceano de coisificação’ tem pautado muito a ‘apreciação’ de espetáculos ultimamente e afogado muito e todos, ao mesmo tempo. Os ‘tipo assim’: GOSTEI e NÃO GOSTEI, sem outro esforço na apreciação das obras significa um rótulo facilitador... Então, buscando um exemplo aproximativo, dizer que ‘a Globo tem padrão de qualidade e as outras emissoras não’, significa apenas repetir aquilo que o dono da emissora quer que se fale da sua emissora, não é? Quem fala desse modo, sem pensar, pode estar sendo manobrado por espécies de perigosos cordões invisíveis.

Mas, voltando a Brecht, o teatro popular costuma transitar, feito na rua ou não, mas sempre por uma relação de natureza estética partilhada, e de modo irreverente-crítico[ii]: com o ingênuo, não com o primitivo; com o poético, não com o romântico; aproximando-se da realidade, sem contaminar-se ou reproduzir acriticamente as politiquices corriqueiras e ligadas estritamente à vida privada. Adotando as alegorias - que permitem o reconhecimento, mas não a identificação -, que tem uma dimensão social mais significativa àquela dos símbolos em suas múltiplas possibilidades de interpretação e de individualidade, o popular, normalmente acompanhado dos expedientes do épico, questiona, de saída, o ‘natural e o naturalizado’. Transitando entre o entretenimento e a diversão, o popular, tende a denunciar pelo riso as mazelas e injustiças sociais, através do exagero ou de processos de reversão do comportamento[iii], mas lembrando permanentemente, e sem proselitismos que o natural na vida social não existe.[iv]

Hoje a indústria cultural – no sentido de escoar uma infindável catarata de produtos, padronizar comportamentos, desejos, criar massas e rebanhos de seres muito parecidos e (ir)reconhecíveis – descobriu que a palavra-rótulo popular aproxima os consumidores, então, a partir desse engodo, vende uma profusão de obras-mercadoria como se fossem populares. Nessa generalizada venda de gato por lebre são produzidas em ‘lotes prontos para o uso’: as emoções baratas; os passos de dança fácil; a música chorosa e de fácil dedededecoração, falando de amores perdidos; de revistas e programas de (que nos livrem desse mal!) falação de vida alheia ... o objetivo é o lucro fácil-rápido e estupidificador.

Cultura fast food, delivery, prêt-à-porter a repetição do ‘consagrado’ pela televisão: de bordões a comportamentos, o preconceito risível e esvaziante, a moda que reconforta e faz o indivíduo se sentir fazendo parte de algum tipo de aldeia (ou rebanho?) têm se caracterizado, principalmente, em mecanismos alienadores e de docilização. Como se pode perceber, apesar de muitas dessas obras serem apresentadas como produto popular, o que se tem são obras popularescas. No mínimo, elas enchem o bolso dos artistas ou dos detentores dos passes destes. Obras popularescas não alertam, não dignificam, não esclarecem, não emocionam socialmente, não libertam, e daí vai. Drummond, com quem muito se pode aprender, finaliza um de seus poemas afirmando: “chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.”

Não é à toa que tanta campanha ‘meia boca’ tem enganado e levado tanta gente às ruas!!! A gente não quer só comida - que existe para restrita parcela da população mundial – a gente quer comida diversão e arte! Antes de pedir paz, por que não somos estimulados a pedir justiça!?

Voltando ao popular em teatro, e sem purismos de qualquer espécie, é preciso, minimamente, ter clareza, conhecer e articular os seguintes aspectos ao usar não o rótulo, mas a relação pressuposta pelo popular: origem, objetivos, função, natureza.[v]

Originado e divulgado, sobretudo, pela oralidade, sem dispensar outras formas de registro, ao longo da história, o teatro popular, originado na Antigüidade clássica grega, foi desenvolvido à excelência pelos romanos, tomando como ‘combustível essencial’ o jogo e a ludicidade: rivalidade saborosa entre público e atores. Relacionar-se de modo partilhado e direto, repleto de inserções épico-narrativo, tem caracterizado, também, todas as formas que buscam a rua como palco. Assim, é função e natureza do popular, principalmente quando apresentado na rua, facilitar o acesso à arte, transformando um lugar (que é materialidade) em um espaço (prenhe de instabilidade e de contradição, que tem circunstância, tempo) comunicacional. Nessa transformação, há um processo de intervenção de sujeitos históricos que reinventam e atribuem uma nova função ao espaço, em que os indivíduos relacionam-se e reiventam-se em processo. Nesse processo facilitador, fundem-se: acessibilidade físico-geográfica, donde a escolha pelos espaços abertos, públicos e itinerantes; acessibilidade temática, em que tanto os conteúdos como o seu modo de exposição possam ter relevância social e ser significativos e de interesse àqueles a quem a obra fundamentalmente se destina; acessibilidade na criação e apresentação das personagens, sem subestimar ou superestimar o público, mas estabelecer uma relação de parceria e cumplicidade.

Finalmente, e de modo redutor (porque muitas outras coisas haveriam a ser ditas), o teatro popular que pode enfatizar o entretenimento, a diversão, o digestivo, o provocador, o problematizador, a identificação emocional tem no teatro popular, por seu caráter épico e suas características de acessibilidade, uma forma híbrida, cujo olho ‘pregado e despregado no público’ improvisa, porque a vida é urgente e o trancetê da rua também.

Muitos são aqueles que têm tentado contar a história do teatro de rua brasileiro: através de livros, revistas, encontros - artísticos e de reflexão. Então, e porque são muitos os Quixotes-macunaímicos-Severinos as perspectivas confluem para o registro, a memória e o conhecimento desses paladinos.

Já se pode sonhar!
Alexandre Mate – Professor da UNESP

NOTAS
[i] Este ensaio pode ser encontrado no livro organizado por Fiama de Pais BRANDÃO. Estudos sobre teatro – Bertolt Brecht, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2005, pp.113-120.

[ii] Irreverente muitas vezes pelo modo de desenvolvimento de uma temática ou com relação aos tipos sociais: notadamente repressores, mas sempre irreverente por enfrentar uma multidão de transeuntes que tem seu lugar invadido. O ator que vai para a rua precisa redimensionar-se em tamanho; reprojetar-se, em voz, expressão facial, movimentos; estufar o peito, como um lutador prestes a enfrentar um adversário; transbordar alegrias, choros... Enfim, sobretudo o ‘artista de rua’, sabe que precisa ser um titã!

[iii] Das excelentes obras à disposição, e que fazem uma análise desse caráter de reversão, consultar, principalmente o primeiro capítulo, de Mikhail BAKHTIN. A cultura popular na Idade Média e no renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo, HUCITEC; Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1993.

[iv] Inúmeros exemplos de produções do teatro brasileiro poderiam ser aqui evocados, mas, e partindo do que há de melhor, um dos maiores e mais premiados autores de teatro brasileiro, Luís Alberto de Abreu, e sobretudo a partir da década de 90, produz comédias, da mais significativa e sofisticada qualidade, enfeixando as características aqui apresentadas.

[v] Algumas das características aqui apresentadas prestam-se também ao teatro praticado em espaços fechados, entretanto, é a conjunção e articulação entre elas que caracteriza a prática do popular.