A Construção do Comportamento Social
Com os fatos ocorridos na 2ª semana de maio, torna-se nítido a influência dos meios de comunicação sobre a sociedade. Eles antecipam as pessoas em suas decisões e inferem na rotina de todos.
Entretanto, o que é de maior relevância nesse contexto é a conduta acrítica dos indivíduos diante das informações que circulam e das que são adquiridas. Elas chegam e são tomadas como verdadeiras, sem antes passar por uma análise prévia.
Quando se diz em análise de notícia, deve-se tomar como objeto as palavras.
Durante esses dias de tensão, foram utilizados termos inapropriados para classificar os atos das facções criminosas. Esses termos, evidentemente preocupam, porque estão associados a outra situação presenciada pelo mundo. Tem-se como exemplo: atos terroristas; guerra civil; guerra entre policiais e o crime organizado; e tantas outras.
Diante de toda essa situação, é importante tomar (ou criar/construir) a consciência do poder da palavra.
Cada palavra tem seu valor e a aceitação desse valor foge do controle dos indivíduos.
Esse assunto já foi tratado em um trabalho póstumo de um lingüista suíço, Ferdinand Saussure (pai da lingüística moderna). Na sua obra “Curso de lingüística geral”, ele trata das unidades que estruturam a língua: o signo. O signo compõem a palavra e estrutura a língua em todos os seus níveis ( de acordo com o outro lingüista, Chomsky).
O signo é composto pela junção de um significado (o conceito do que se quer categorizar) a um significante (pode ser entendido como um som virtual e ideal).
Entre esses dois componentes, o que mais interessa para a presente discussão é o “significado” que sedimenta-se em sociedade, coletivamente. Em seu trabalho, temos a defesa da idéia de que a língua (e conseqüentemente os signos que o compõem) é uma “instituição supra-individual.”
Resumindo e em outras palavras, os termos que utilizamos para descrever, relatar, afirmar e questionar algo, carregam um significado instituído socialmente, somado ao que se quer transmitir. Exemplificando, não se diz ‘atentados terroristas de uma facção criminosa ‘X’”, por simples capricho. Há atrás ou subentende-se da frase, a intenção de retomar a idéia de um atentado terrorista. E o significado social que temos do termo “atentado terrorista,” remete ao episódio do 11 de setembro; todos as outras notícias sobre homens bombas; destruição de um país...
Em suma, vem à tona situações de desordem e impossibilidade de repressão. Instaura-se aí, a verdadeira desordem quando é veiculado a população esses termos. Com as mesmas intenções.
Pronto, temos agora uma população que compartilha desses mesmos significados, que trazem sensações negativas. Tudo isso pela incorporação de um significado, que não pertence a realidade do Brasil.
Na sociedade mundial, o significado do termo terrorismo amplia-se para questões mais complexas. Questões que envolvem conflitos entre valores e disputa econômica; questões de assincronia entre duas partes de um globo (Oriente/Ocidente).
Todos esses aspectos foram reduzidos a um acontecimento que não significa tanto para todos as categorias e grupos sociais deste país.
Porém, mesmo não significando muito os meios de comunicação tratam o ocorrido com seu significado ampliado. E as pessoas não inutilizam o significado ampliado – podemos chamar de “valor heteronômico” – porque dependem dos meios, por serem estes a fonte de informação. E assim, como já mencionado, chega para todos a informação com esses “valores heteronômico.”
A verdade é que a geração brasileira atual, nunca vivenciou uma guerra civil, e por isso não pode categorizar um evento como tal. As informações atuais que chegam ao Brasil, sobre guerra e terrorismo, provém das experiências e vivências de outros países e eles não compatibilizam com o nível do Brasil (país emergente ou subdesenvolvido).
A resposta imediato da população deve-se também a uma característica do organismo sofisticado do ser humano, que diante de diferentes espécies de estímulos apresenta respostas compatíveis, como no caos, defesa. Isso não é tudo.
A culpa está também nas notícias ignoradas de situação similares, que ocorreram rotineiramente.
Todos os dias há a rebelião de diferentes presídios em diferentes pontos do Brasil e nem por isso a mídia veicula essas informações ao povo. Ela usa desses mecanismos rotineiros, como mecanismos de desvio da atenção para questões realmente importantes.
É assim também com a copa!
Um período de abstração das questões sociais mais importantes.
Assim segue-se a construção do comportamento social, através da tela, jornal, internet. Uma construção através de “valores heteronômicos.”
Thomas Miranda – Aluno do I Núcleo de Teatro de Rua
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