Projeto desenvolvido pelo grupo Buraco d`Oráculo nas Cohab`s da Zola Leste de São Paulo. Consiste na criação de um circuito de teatro de rua e a criação de três núcleos de teatro de rua que integrará o circuito. Haverá ainda encontros bimestrais com fazedores e pensadores do teatro, denominados Café Teatral e uma publicação intitulada A Gargalhada. Este projeto tem o patrocínio da Lei 13.279/02 - Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Friday, July 28, 2006

TEATRO PARA PÁRA-QUEDISTAS

TEATRO PARA PÁRA-QUEDISTAS
Um Ensaio sobre o Teatro de Intervenção

Em 2003, o Movimento de Teatro de Rua chamou para um bate-papo lá no Barracão Cultural Pavanelli os grupos de teatro de rua da capital paulista. Eu propus o “teatro de intervenção” e, vapt-vupt, o Grupo Manifesta de Arte Cômica se deparou falando sobre isso com o Ilo Krugli, do Vento Forte.

Os grupos de que faço parte nasceram se apresentando para platéias “caçadas a laço” (festas, buffets, eventos etc.). Haja improviso para manter aquele povo inteiro aceso e não naufragarmos num adeus-cachê! Em nada isso se diferenciava do que, por exemplo, falava o Dario Fo no seu Manual Mínimo do Ator! Era o improviso (este rico e vivo repertório de manhas-e-artimanhas cênicas, arduamente conquistado numa vida inteira de ofício) que enchia a barriga e movia as viagens dos artistas medievais. A Paoli Quito a ele se refere como "obra de anjos” que sustentam quem se lança no abismo da relação com a platéia, sem saber onde vai dar... É a pedra-fundamental do teatro de intervenção, uma poderosa isca que pesca o transeunte que "caiu ali de pára-quedas". Seja aonde for, existe melhor maneira de se inserir num ambiente deste do que compartilhá-lo e redimensioná-lo criativamente com quem naturalmente e cotidianamente o habita? O Amir Haddad define teatro de rua como “celebração”, um brinde entre ator e espectador. Respeitadas as devidas proporções, o que vimos fazendo desde nossa origem é exatamente isso: redimensionar ambientes! Transformar “pára-quedista” em espectador e inseri-lo na cena, seja nos cannovacio dos cômicos dell`arte, nas entradas e reprises de palhaços ou alguma ação teatral temática. Bons exemplos são a Risoterapia e nossa versão palhacesca de Dom Quixote e Sancho Pança.Iná Camargo afirma que o “teatro de rua é arma que pode virar munição para o inimigo”. Boa parte da não aceitação do teatro de intervenção por parte da própria classe teatral se dá por conta de tantos artistas que ainda flagramos em portas de lojas ou ao redor de palanques políticos, oferecendo ao banquete dos interesses mercantilistas um instrumento naturalmente tão transformador. Seja técnica ou seja talento (de preferência ambos), é totalmente dele a capacidade de se valer de personagens ou de manipular criativamente um universo todo de características, transformando-o em situações teatrais para, a todo instante, e em espaços não propícios a isso, gerar e manter um diálogo altamente transformador com a população local — "promovendo a ampliação da consciência do espectador ao trazer à tona a sua própria realidade, o seu dia-a-dia, o seu cotidiano", como disse a Georgete Fadel, da Cia. São Jorge de Variedades, que prepara, neste ano, uma invasão de quixotes para as ruas.

A este artista cabe transformar isso. Reconhecer este valor é o primeiro passo, por exemplo, para ele encontrar políticas públicas que modifiquem a sua realidade econômica, que o coloquem no lugar que merece dentro da vitrine teatral da sua cidade, do seu país e no mundo. É maravilhoso que eu, cidadão, passeando pelo meu caminho, seja “raptado” por um acontecimento que me rasga — da forma criativa e crível, por mais escalafobético que pareça — o cotidiano de indivíduo e de coletivo social, que me reinvente como indivíduo e coletivo social, partindo do meu dia-a-dia, me colocando na cena teatral e criando comigo um diálogo tão aberto e intenso, que não me resta outra saída a não ser a de imprimir nesta cena a minha própria visão de mundo!
Em 1993, uma epidemia de cólera levou o Grupo Manifesta pelo país com uma intervenção teatral para trabalhadores de cozinha industrial. Então, constatamos que era possível, sim, uma transformação (individual ou coletiva) nas platéias espontâneas. Nossa vereda sempre foi a da vontade quase paranóica de fazer rir. Como falar de cólera, AIDS, loucura, droga, miséria, dor ou doença usando o humor? O riso é uma atitude revolucionária, regenerativa e renovadora, em suma, política! Em 1995, a experiência do norte-americano Michael Christensen, que espalhou pelo mundo uma rede de palhaços em hospitais, gritou "bingo!". Nos espaços não-convencionais, seja qual for o "recado a ser dado", o humor viabiliza um diálogo mais direto entre ator/personagem-espectador. Ao rir, parece que o pára-quedista nos diz: “tô sabendo! Vamos nessa!”. E pode apostar que ele vai! Ele quer uma vivência nova, verdadeira e (sim, Brecht tinha razão nisso!) divertida. Por mais curto que seja seu tempo ali, ele é fiel, ele quer botar seu pitaco naquela história, fazer parte daquela vivência.

Este é o cerne principal disto que estamos denominando como sendo TEATRO DE INTERVENÇÃO. Abramos nossos livros de escola e recordemos quais são os propósitos que legaram ao mundo um Boal! Então, é hora de revermos determinadas crenças, principalmente as que reivindicam "sustentações acadêmicas" que legitimem esta expressão teatral. "Narrativas de Passagem", por exemplo, é um projeto com o qual o dramaturgo Luiz Alberto de Abreu visa narrar passagens míticas do ser humano, principalmente a da morte, para pessoas em estágio terminal, de risco de vida ou em estado de abandono. Ao invés da compreensão e do desfrute destas narrativas, o que se vem notando nos responsáveis pela viabilização desses encontros é a preocupação com "o aval acadêmico necessário ao sustento da proposta"!Que se pense menos e se faça mais! Que se viva e se deixe viver! Que gênio esperou bênção de alguém ou até mesmo decidiu-se a sê-lo? Cada qual que coloque seu bloco na rua e toque sua música com todas as cordas do seu coração plenamente afinadas. É o espectador que importa. Não falo só de presença física, mas, sim, da forma como sua sensibilidade é tocada, conquistada, seduzida, compartilhada e redimensionada; falo de paridade, de divisão de responsabilidade no estabelecimento do momento teatral no cotidiano de todos nós! Isto é Teatro de Intervenção.

A menos que seja lícito negar as infindáveis riquezas contidas no arcabouço que o sustenta, fruto constante de uma inventividade herdada dos primórdios do Teatro, dos rituais de todas as crenças, das festas dionisíacas, ágoras gregas, das antigas andanças das trupes mambembes, me parece algo natural que o Teatro de Intervenção incomode a ótica acadêmica instituída, por conta de uma lentidão no que toca à aceitação dos próprios desdobramentos do fazer teatral, em suas inúmeras e sempre renováveis vertentes estéticas.

* Carlos Biaggioli é integrante do
Grupo Manifesta de Arte Cômica e da Cia. de Rocokóz
(Publicado em A Gargalhada nº 3)

Monday, July 10, 2006

Poema

Abaixo o poema de um dos alunos do Núcleo de Teatro de Rua.

Canto ao negro Cândido

Foi assim um tal motim.
Surgiu no Pardo, um João honrado.
Almirante timoneiro de um navio, quase negreiro,
Navegou pela história, mas morreu afogado na marinha
sem memória.
Com canhão na mão
Resurgiu no cais,
Na baía com o "Minas Gerais".
Relembrado como um susto
Resurgiu um firme busto.
Não era de revolta, não era da frota do mar;
Não era feito de notícia
Não era mais uma condecoração ao negro do timão.
Era um busto feito de sons, reunindo todos os tons.
No coração da tripulação
Que faz de honagem uma eterna exaltação
Ao almirante timoneiro
Principal personalidade de um tempo guerreiro.
" Eterno amotinado, só.
Chibata sem dó à atrocidade
Que falta à liberdade, que falta à formação,
E falta acabar (não só no mar)
Com tiros de canhão
O ser sem razão da discrimanação"
Assim cantou-se esquecido
Ao João Perseguido em um tempo, ido ...

Thomas Miranda

Núcleo de Teatro de Rua


Abaixo dois depoimentos sobre o as oficinas do Núcleo de Teatro de Rua. As aulas ocorrem de terça a quinta no CEU Parque São Carlos. Dentro do núcleo os alunos têm aulas de interpretação, corpo, circo, percussão, ocorre, ainda, com outros alunos a de figurinos e adereços, todas voltadas para uma montagem no final.





Comentário sobre a Oficina

Eu estou adorando a oficina do Buraco d`Oráculo, pois o pessoal ensina não só como fazer teatro de rua, mas também nos orienta sobre a função do artista na sociedade. Essa é a parte que mais gosto!!!

Essa oficina trouxe-me outra visão sobre a arte. O que as peças de teatro querem dizer??? Como o artista se comporta com o público??? Essas são algumas das questões mais interessantes que os professores trabalham. Existem outras, como por exemplo, a energia que devemos transmitir ao interpretar; formação e fomento de informações necessárias à sociedade, que o artista deve ter e valorizar a integração de experiências. São muitos os assuntos que devemos tratar antes de ir pro palco.

Outra coisa muito legal, é o que os professores dizem sobre o futuro palco: a rua. Eles nos dão a consciência de que o nosso palco, não é nosso (propriedade do artista). Ele é um espaço aberto para a arte de todos. Nosso palco é um espaço cultural e a cultura é a manifestação de valores do povo em sua totalidade.

A rua é um espaço de todos e para todos. E essa característica de universalidade traduz-se na equivalência entre ator e platéia e essa situação é o sentimento de democracia condensado.

Nessa democracia cultural, o espectador é o próprio artista e o artista (sendo povo) é o responsável por levar informações; e não sugerir comportamentos.

Enfim, na “Oficina do Buraco d`Oráculo” tudo é colocado em debate e todos os debates enriquecem o processo de criação da peça.

No Buraco d`Oráculo temos uma formação artística, crítica, política; tudo com ética. Crescemos como ser humano.

A formação é oferecida em todas as aulas que temos!

É tudo muito bom!!!

Muito legal!!!
Enriquecedor!!!

Thomas Miranda


Para o Buraco d`Oráculo
Eu, Allan Elias, estou muito feliz com os professores e os meus colegas de teatro de rua do Buraco d`Oráculo, pois estou aprendendo muitas coisas no decorrer das aulas e estou gostando cada vez mais das aulas, como por exemplo:
Das de circo;
Das de interpretação;
Das de alongamwento.
Os professores, Adailton, de interpretação, a Selma, de circo e a Lucélia de alongamento, ajudam o nosso grupo a termos mais práticas e deixam as aulas bem divertidas.

O teatro de rua do Buraco d`Oráculo é a minha primeira experiência no mundo do teatro e estou aproveitando a oportunidade que estou tendo de estudar teatro, estou vivendo o meu momento no teatro e espero que esse momento não acabe. É isso que eu sinto no “Buraco d`Oráculo.”

Allan Elias Marcelino

Saturday, July 01, 2006

Programação de Julho e Agosto

BURACO D`ORÁCULO
Apresenta
Projeto Circular COHAB`s
Patrocinado pelo Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo

O projeto vem sendo desenvolvido desde 2005 e já foi visto por mais de seis mil pessoas. Em 2006 o projeto passará por dezoito COHAB`s.

Além do circuito de Teatro de Rua, o projeto formará três Núcleos de Teatro de Rua, cada um com uma montagem final. Os núcleos terão aulas de interpretação, expressão corporal, percussão, técnicas circeses e figurinos e adereços. O primeiro núcleo já está sendo formado.

Teremos ainda encontros denominados "Café Teatral" em que discutiremos essa linguagem com os grupos convidados do Circuito e com pensadores do teatro, objetivando fundamentar e instrumentalizar os participantes dos Núcleos.

O projeto tem ainda, uma publicação intitulada "A Gargalhada", que discutirá a linguagem do teatro de rua. O primeiro número já foi lançado em março.



Abaixo a programação de julho e agosto:
CIRCUITO - ESPETÁCULOS - julho e agosto de 2006

Julho
Conjunto José Bonifácio – Pça. Brasil
DATA ESPETÁCULO GRUPO
Dia 08 às 15:00 – O Cuscuz Fedegoso – Buraco d`Oráculo

Dia 16 às 15:00 – A Muy Cruel e Lamentável História de Romeu e Julieta – Studio Clã

Dia 23 às 15:00 – "Pois é..." – Teatro da Pateticidade

Dia 30 às 15:00 – A Farsa do Bom Enganador – Buraco d`Oráculo


Agosto
Cohab Teotônio Vilela – Av. Arquiteto Vilanova Artigas (Altura nº 1.300)

Dia 06 às 15:00 – A Farsa do Bom Enganador – Buraco d`Oráculo

Dia 13 às 15:00 – "Pois é..." – Teatro da Pateticidade

Dia 20 às 15:00 – SOCORRO! – Cia Vate Katarse

Dia 27 às 15:00 – A Bela Adormecida – Buraco d`Oráculo


CAFÉ TEATRAL
Dia 04 de agosto às 17:00h
Tema: O Processo de Criação de Dario Fo – Com Augusto Marin (Ator e Diretor do Coletivo Teatral Commune, com mestrado na obra de Dario Fo)
COMMUNE
Rua Antônia de Queiroz, 474 - Conj. 04 - Consolação

TODA A PROGRAMAÇÃO É GRATUITA!

MAIORES INFORMAÇÔES:(11) 9541-3588 / 8188-3670
buracodoraculo@yahoo.com.br
http://www.buracodoraculo.kit.net/